Professor da UNIR que chamou palestrante de vagabunda, bostinha e cocô é suspenso

O que ele fez o afastou das salas de aula, gerou várias notas de repúdio de instituições públicas e privadas, petição online com protestos que dominaram as mídias sociais por semanas e repercutiu com destaque na imprensa nacional.

 POR LUCIANA OLIVEIRA/http://blogdalucianaoliveira.com.br
Publicada em 20 de junho de 2017 às 03:28
Professor da UNIR que chamou palestrante de vagabunda, bostinha e cocô é suspenso

Após quase sete meses da denúncia, saiu a decisão da Universidade Federal de Rondônia (UNIR) sobre a sindicância contra o professor do curso de Direito, Samuel Milet.

O reitor Ari Miguel Teixeira Ott, após receber o relatório da comissão sindicante, aplicou “a sanção de suspensão de 90 dias, devendo esta ser convertida em multa, na base de 50% (cinquenta por cento) por dia de vencimento”.

Milet já havia cumprido afastamento pelo prazo de 60 dias como medida cautelar, sem prejuízo de salários.

Agora, segundo portaria, ele pode trabalhar por três meses com direito a metade do salário, sanção que desagradou quem esperava da Universidade uma posição dura contra condutas inadequadas ao ambiente acadêmico democrático.
Os fatos que motivaram a abertura do Processo Administrativo são graves.

À época, o professor ainda cumpria estágio probatório, mas sua nomeação foi validada antes que a comissão sindicante concluísse os trabalhos de investigação.

O que ele fez o afastou das salas de aula, gerou várias notas de repúdio de instituições públicas e privadas, petição online com protestos que dominaram as mídias sociais por semanas e repercutiu com destaque na imprensa nacional.

O professor foi flagrado num diálogo de cerca de 12 minutos com uma acadêmica, lançando ofensas contra a palestrante da Universidade de Brasília (UnB), Sinara Gumiere, que veio à capital para falar da questão do genêro no âmbito do direito.

Enquanto a aluna corrigia o professor, mais ofensas com apelos misóginos, sexistas e machistas eram registradas.
“Sinara Gumiere é uma vagabunda, entendeu? Defensora de aborto, de gênero. Vagabunda! Leva isso pra ela e manda ela me processar que eu provo”, disse Milet.

Ele não assistiu toda a palestra, mas usou o tema e o nome da advogada para promover seus próprios conceitos, à margem do direito.

“Aquela mulher, aquela bostinha, cocô, ela foi lá não foi pra fazer uma palestra, não foi pra um debate, porque ela falou sozinha. Aí quando tocou no assunto do aborto eu tive que manifestar. Dei as costas, soltei um peido e fui embora”, completou o professor.

A advogada tentou, mas não conseguiu por meio de uma Ação Inibitória Com Pedido de Liminar, afastar a possibilidade de aprovação do estágio probatório enquanto estivesse em curso o processo administrativo disciplinar contra Millet.

Da responsabilização pelas ofensas e calúnias que lançou contra Sinara, nas esferas civil (danos morais e improbidade) e penal, Milet não deve escapar. Do mal estar nas salas de aula idem, afinal, uma sanção administrativa logo após o estágio probatório é uma mácula que professor nenhum gostaria de carregar.

Por telefone, Sinara disse que ainda não teve acesso à decisão e que vai aguardar pra se posicionar sobre o que a imprensa já divulgou. Só a partir daí vai planejar outra forma de buscar justiça pela via judicial.

Até o momento a UNIR não emitiu nota deixando claro que além da sanção administrativa reprova e espera que não se repita conduta semelhante a do professor suspenso.

A OAB que também emitiu nota de repúdio por meio da Comissão da Mulher e da Diversidade Sexual ainda não publicou nada sobre a decisão.

O Ministério Público Federal pedia mais que a decisão contempla. “Nós queremos não só o procedimento disciplinar administrativo, mas que a Unir promova debates de esclarecimentos ao corpo docente e discente, sobre as questões levantadas, sobre gênero, homofobia, e discurso de ódio”, disse à época o procurador federal Raphael Bevilaqua.

Ele e outros procuradores assinaram uma recomendação nesse sentido, uma vez que “em qualquer espaço público, principalmente no de ensino, é incompatível a propagação de discursos discriminatórios de qualquer natureza, nos exatos termos do preconizado pela Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 e alçado ao status de objetivo fundamental da República”.

Comentários

  • 1
    image
    Bruno Rocha 20/06/2017

    O professor em questão mostra que a Universidade tem admitido corpo docente desqualificado. É ultrajante que um professor de direito, de uma universidade federal, não saiba debater questões de gênero e aborto. Seu posicionamento transfere mácula para a instituição, que notoriamente assume papel machista, racista, homofóbico, violento e completamente contrário a qualquer sinal de inteligência acadêmica. Uma pena para Rondônia e consequentemente para o país.

  • 2
    image
    el cabeça de boi 20/06/2017

    Opino que a palestrante estar coberta de razão , alem do mais já somos demasiados nessa vida terrena.

  • 3
    image
    Sergio Araujo Pereira 20/06/2017

    Na minha opinião o professor apenas exerceu o seu livre direito de manifestação de pensamento o que é autorizado pelo artigo 5 da CF/88. Se eu estivesse presente teria feito o mesmo pous sou contra o aborto. Ninguem é obrigado a aturar discurso pró aborto e favorável a subversão da natureza. Deus fez homem e mulher para se completarem e perpetuar a espécie. No dia em que dois homens ou duas mulheres copularem e gerarem um novo ser pode ser que eu aceite esse tipo de comportamento homossexual. Achei injusta a punição aplicada. Se fosse chamado a opinar, votaria pela absolvição do ilustre professor. Sergio A Pereira Advogado - OABRO 6539

  • 4
    image
    joão bosco 20/06/2017

    o professor ultrapassou o limite da liberdade academica para o pessoal e por isso foi condenado. agora porque tal moralidade não se aplica imediatamente nos desmando governamental , sonegação de imposto, crime ambiental , diversas coorrupções onde o povo ´´e marginalizado e exlcuido por força dessas ações. o direito é uma porta abertas para a corrupção, sonegação onde os candidato pode se candidatar praticar crime e ser aceito como homens bons e honetos. temos que acabar com esse moralismo falso

  • 5
    image
    Pedro Manso 20/06/2017

    Isso mostra o carater desse "professor"; a suspensão com vencimento no bolso é mesmo que nada, esse tipo de gente arrogante tem que ter penas mais duras para que ele reflita que nenhum ser pensante deve umilhar e se achar que é mais; todos nos vamos para um mesmo caminho, isso é fato "professor".

Envie seu Comentário

 
Winz

Envie Comentários utilizando sua conta do Facebook