Por que temos tanta dificuldade em aceitar as diferenças?

O interesse dos deputados, antes favoráveis, agora contra, conhecemos bem, mas não se trata disso o assunto aqui.

Cíntia Paganotto
Publicada em 04 de junho de 2018 às 15:16

No início de maio/2018 a Assembleia Legislativa de Rondônia aprovou o Projeto de Lei nº 845/17 que criou o Conselho Estadual de Políticas Públicas e Direitos Humanos para a população de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros (LGBTTT). O Governador não vetou.

No entanto, com pressão de uma “certa população de evangélicos”, no dia 29 de maio a Assembleia Legislativa revogou a lei que criou o Conselho.

Várias entidades se posicionaram publicamente através de notas e cartas em favor da criação do Conselho (OAB, DPE, MPF, MPE, UNIR, Arquidiocese de Porto Velho e outras), expondo os motivos que justificam sua criação, em nome da promoção da cultura de paz.

Não tive notícia de notas ou cartas públicas em desfavor da criação do conselho. Mas uma parcela da população evangélica – com o cuidado de não generalizar porque conheço muitos evangélicos que são a favor da criação do Conselho -  se manifestou nas redes sociais contra o conselho e, organizados politicamente, fizeram ingerência junto aos políticos de nossa laica Assembleia Legislativa rondoniense. Venceram, como se vê.

O interesse dos deputados, antes favoráveis, agora contra, conhecemos bem, mas não se trata disso o assunto aqui.

O assunto aqui é por qual razão a orientação sexual do outro nos incomoda tanto a ponto de esquecermos princípios cristãos basilares? Não queremos aceitar que somos diferentes, ou negamos nossa igualdade? Sob os auspícios de Deus negamos a humanidade do outro. Negamos a liberdade e a felicidade. Mas por quê? Será que não queremos aceitar que os homossexuais não sejam tão covardes como nós?

Somos todos covardes e nos escondemos atrás de desejos e fantasias que não podemos sequer enfrentar. Os conservadores evangélicos, demasiado humanos para seu desespero, talvez não possam suportar a coragem alheia, que os lembra de seu sofrimento interior, de sua humanidade negada pelos dogmas religiosos.

Queimamos as bruxas, mas sonhamos em ter sua liberdade.

Se quisermos continuar nos presumindo ocidentais civilizados, precisamos aceitar as diferenças, é uma questão de maturidade. Leandro Karnal vai mais longe: “a não aceitação das diferenças é problema tanto patológico como baixa inteligência e falta de caráter. Ou uma combinação das três coisas”.

Cíntia Paganotto

Advogada

Comentários

  • 1
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    Antônio Tavernard 04/06/2018

    Parabéns Dr. Cíntia, muito apropriada e inteligente sua abordagem. É um universo político eivado de hipocrisia, que utiliza-se deturpadamente de justificativas bíblicas para negar direitos e fazer média com a classe evangélica, na busca, é claro, de barganhar esses votos. Enquanto isso, as minorias, justamente por serem minorias, seguem excluidas de direitos e entregues à própria sorte. Eis o cenário.

  • 2
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    Pedro Paulo Almodovar 04/06/2018

    Cíntia! Você está coberta de razão! Porém, não esqueça que nossos Deputados são movidos a voto. Não espere deles qualquer tipo de coerência, ideologia, decência, lealdade. Fazem tudo em proveito próprio e para o benefício de seus apaniguados. O caso em comento (Aprovação da criação do Conselho) deixa claro que os deputados somente votam algo, quando veem vantagem eleitoral ou financeira. Do contrário, escondem-se covardemente, temendo perder votos. Eles certamente pensam: O que são meia dúzia de travestis mortos pelas ruas de Porto Velho, diante de um punhado de votos de evangélicos fundamentalistas???

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