Em Linhas Gerais: Em terra de caras-de-pau, discurso de Confúcio na diplomação não causa nenhuma surpresa

Gessi Taborda

Publicada em 19 de December de 2014 às 14:04:00

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GOVERNANÇA

Nessa terra onde a cara de pau é praxe da maioria dos políticos, não causou surpresa alguma o discurso proferido por Confúcio Moura na cerimônia de diplomação dos eleitos nas eleições de outubro último. A “festa” aconteceu no auditório da Unopar. O cenário mais parecia com o de um autêntico teatro do absurdo onde (pasmem leitores!) o personagem principal foi o governador Confúcio Moura, personagem considerado pela Ministra Laurita Vaz, do STJ, como um bucaneiro qualificado, líder da organização criminosa que agiu no governo de Confúcio (sempre de acordo com o relato da ministra em inquérito que analisa), ao longo de seu primeiro mandato.

Sem ao menos corar-se diante das autoridades judiciárias ali presentes, Confúcio pediu o apoio “dos poderes, dos parlamentares novos e dos reeleitos, senadores, e órgãos de controle fiscal, para que possamos fazer esse grande pacto de governança” para o segundo mandato, a iniciar-se no próximo mês. Até parecia estar ali, discursando, um político acima de qualquer suspeita.

EXPLICADINHO

Certamente Confúcio sabe muito bem o significado da palavra “governança”. Isso foi o que faltou no seu primeiro mandato. Se governabilidade diz respeito às condições de legalidade de um determinado governo, governança está relacionada à capacidade de colocar as condições da governabilidade em ação. O primeiro governo de Confúcio Moura está terminando num pântano com o fedor da corrupção.

No primeiro mandato, Confúcio esqueceu que a adoção de boas práticas de governança era vital para manter estável tanto o desenvolvimento econômico como o progresso social. A falta de transparência e eficiência na gestão desse político do PMDB reforçou a ideia de que prevaleceu nesse governo (apesar de sua reeleição) o vício de raiz da política local, exercida para garantir favorecimentos imorais, corrupção e práticas antirepublicanas.

EUFEMISMO

No exercício de sua influente retórica (talvez imaginando convencer a parte togada da plateia) o governador reeleito usou a receita da charada para abordar seu envolvimento nas denúncias (sempre de acordo com o inquérito 784, que está no STJ em fase de avaliação) de liderança da organização criminosa desbaratada pela Operação Plateias.

“Nunca havia visto na minha vida algo dessa natureza em direção a minha pessoa”. Este foi o eufemismo utilizado por Confúcio para falar desse seu envolvimento na organização criminosa que cobrava propinas e acertava negócios no âmbito do governo mediante comissões etc.

A quem foi dirigido o discurso do governador reeleito? Será que as declarações pretendiam sensibilizar autoridades que conhecem de perto a pisada de bola do governador?

MAL ENTENDIDO?

E como alguém que acredita nas próprias mentiras, Confúcio soltou essa pérola: “Tenho certeza que todo o mal entendido será mostrado no determinado tempo, igual a hoje na continuação de mais um mandato meu como governador de Rondônia”.
Palavras, meras palavras. A roubalheira praticada na primeira gestão de Confúcio não é tratada pela ministra Laurita, do STJ, como simples “mal entendido”. São atos criminosos e seus autores deverão ser punidos com o rigor da lei. O diploma recebido ontem pela vitória eleitoral não muda essa realidade. Ele não fará Confúcio entender o significado de normas adequadas à vida coletiva da sociedade rondoniense. Governança congrega o conceito de capital social ou cultura cívica.

CASSAÇÃO

Embora o Tribunal Regional Eleitoral tenha entregado os diplomas aos vitoriosos nas urnas de outubro, nem todos os diplomados estão livres dos riscos de sofrerem cassação do mandato. Alguns diplomados estão na mira do Ministério Público Eleitoral, autor de ações de abuso de poder político e econômico (caso do próprio governador Confúcio) e por compra de votos, como é o caso do deputado Lindomar Garçom.

Políticos que são réus nesses tipos ações podem não só perder o mandato, mas também se tornarem inelegíveis até o ano de 2022.

MÚSICA
Dizem que Confúcio gosta de ouvir música. Não é aconselhável que ouça o gaucho Lupicínio Rodrigues , que cantou: "E a vergonha é a herança maior que meu pai me deixou". Afinal, os que herdaram esse sentimento e estão perto de serem transformados em réus, renunciam de imediato! Deixam o lugar para outros que talvez não envergonhem a si e a seu estado.

OUT
Há um acordo firmado pelos nomes que iniciarão a cúpula da próxima gestão de Confúcio. Nada de olhar para trás. Em outras palavras: ninguém aceitará convite para comentar sobre a organização criminosa descoberta e desarticulada pela Polícia Federal na primeira gestão de Confúcio. Como por aqui a situação é de reeleição, não haverá devassa nas contas da primeira gestão. Imaginam os novos “confucionistas” que isso será o bastante para o governo navegar num mar de tranquilidade em 2015, até mesmo na Assembleia.

TEMPO

Pelo menos no segmento da Justiça as coisas estão aparentemente mudando para melhor. Certamente Silvernani Santos e Moreira Mendes, dois políticos raposas, estão descobrindo que nem sempre o tempo passa e voa no sentido do esquecimento. Com a sentença recente mantendo a condenação dos envolvidos no “Escândalo das Passagens Aéreas” dá até para acreditar que acabou aquela onda do passado, quando a corrupção quase sempre era varrida para debaixo do tapete. Que se cuidem os Mosquinis e Testonis da vida.

MENSAGENS

Agradeço e retribuo as mensagens de boas festas recebidas de Dell’Arte Soluções Culturais, da 17ª Brigada de Infantaria de Selva; de Ralcoh Comunicação; de Estilo Press; de Alice Ferraz Comunicação Integrada; de Luciana Pompeu; de Azul Linhas Aéreas; de Maxpress; de Flávia Vargas e de Karin Bendhaim.

ESPÍRITO DA COISA
Graça Foster: "Estou aqui enquanto contar com a confiança da presidente". Na verdade, o correto teria sido dizer: "Estou aqui enquanto contar com a conivência da presidente". São cúmplices.


OS GANHADORES
Passados mais de quatro anos; só agora realmente entendi o que Lula quis dizer quando falou que o pré-sal era um bilhete premiado. Mal podíamos imaginar que os ganhadores do grande prêmio fossem o PT e os ratos que o circundam.