Em Linhas Gerais

Gessi Taborda

Publicada em 18/01/2013 às 14:24:00

Gessi Taborda – [email protected]


MUDANÇA DE ARAQUE
E mais uma vez os prognósticos do deputado José Hermínio vão se confirmando, para tristeza daqueles que imaginavam uma mudança de verdade no falido sistema de transporte urbano de Porto Velho. O novo prefeito chegou a presidir na ultima quarta-feira uma reunião com o objetivo de apresentar o Plano do Sistema de Transporte Urbano do Município. “O objetivo é mudar radicalmente o sistema de transporte coletivo”, frisou Mirce Silva, engenheira da Semtran, para um monte de “autoridades” participantes do evento. Ora, no meio desse monte de abobrinhas nem uma palavra sobre por ponto final no malfadado monopólio do transporte coletivo.

CONVERSA DE SEMPRE
A conversa é a mesma de sempre: a construção de oito terminais de integração, criação de linhas expressas, corredores exclusivos para ônibus, estacionamentos rotativos, padronização de calçadas, instalações de novos abrigos nos pontos de paradas dos coletivos, reforço na sinalização, aberturas de ruas, construção de dois elevados, mais uma rampa para o terminal hidroviário (devem estar prevendo um aumento substancial na atracação de barcos naquele horrível porto da cidade) e vai por ai. E nessa embromação toda, o novo gestor municipal vai torrar 90 milhões se o Ministério das Cidades topar bancar 85 milhões desse total. E ainda tem gente deslumbrado com essa patacoada...


MENOS COMISSIONADOS
O vereador Alan Queiroz terá dificuldades em enxugar o excesso de cargos comissionados da Câmara Municipal. No final do ano passado o próprio Ministério Público de Rondônia recomendou à presidência daquele legislativo reduzir de forma drástica o número de comissionados para adotar o caminho constitucional das contratações mediante concurso público.

Consta que o número de servidores comissionados existentes na Câmara Municipal, na ordem de 320, é muito superior ao dos servidores de carreira. A maioria dos vereadores se posiciona contra qualquer medida que reduza o número de “assessores comissionados” em seus gabinetes pois, sem essa mamata, não teriam como garantir emprego para cabos eleitorais e aparentados.

PEQUENA EMPRESA
Alan certamente tem interesse em cumprir a recomendação do Ministério Público. E isso é claramente necessário. Basta voltar um pouco no tempo para constatar que, em determinados momentos, os vereadores chegavam a abrigar em seus gabinetes mais de 13 funcionários comissionados. É muito mais gente do que o quadro de pessoal de muitas empresas pequenas por ai.

Certamente o Ministério Público vai ficar de olho no presidente dessa legislatura para ver se a salutar postura de moralização da coisa pública balizará as ações da nova gestão da Casa.
Um sindicalista argumentou que o MP rondoniense sinaliza como tendência a tolerância de apenas um comissionado para cada concursado. Hoje, as indicações políticas em instituições como as Câmaras Municipais dá a idéia de que a Constituição de 1988 nunca tivesse existido. Em algumas instituições rondonienses dois terços dos funcionários são indicados livremente, sem concurso.

COMO KAFKA
É até difícil compreender os motivos pelos quais nossa imprensa ainda abre espaço para mumunhas de políticos devidamente condenados, como aconteceu agora com Natan Donadon. Não é que esse sujeito ainda acha que vai mudar a sentença condenatória do Supremo... Bom, nesse mesmo diapasão, ainda há nesse mídia desvairada quem dê espaço para o ex-prefeito petista que liderou a gestão do balacobaco de Porto Velho, para tentar tapar o sol com a peneira, como se não tivesse absolutamente nada com a corrupção que desviou milhões dos cofres de Porto Velho.
Até parece que essa arraia miúda da política rondoniense se inspira no romance O Processo, de Franz Kafka.
No romance, o personagem Josef K. perde-se nos labirintos de uma ação judicial convivendo com o absurdo de não saber do que está sendo acusado.


OUTROS CONTORNOS
Em relação aos políticos rondonienses desmascarados após profundas investigações sobre os esquemas de corrupção a estória é bem outra. Em se tratando de Natan, Roberto Sobrinho, “irmão” Valter entre tantos outros, o povo sabe os motivos das condenações, das acusações, dos processos. Até mesmo os colegas estão carecas de saber que são pilantras pegos com a mão na massa. Veja, para ficar bem claro, o caso do deputado estadual Marco Donadon. Todos os seus colegas sabem da sua ficha criminal, mas cultivam uma estrutura para lá de kafkiana para protelar ou evitar quaisquer punições.

RELEMBRANDO
Que fique bem claro: Natan Donadon (PMDB-RO), condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em 2010 a 13 anos e 4 meses de prisão por peculato e formação de quadrilha. No dia 13 de dezembro, o STF confirmou a condenação e, na primeira quinzena desse mês, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, pediu a prisão imediata do peemedebista – o que não foi aceito. E assim, como seu irmão Marco Donadon (deputado estadual), toca seu mandato sem qualquer recriminação dos demais parlamentares.


SETE VOTOS
Donadon foi considerado culpado, por sete votos a um, pelo desvio de R$ 8,4 milhões dos cofres da Assembleia Legislativa de Rondônia, que ocorreu por meio de simulação de contratos de publicidade. O julgamento aconteceu 25 dias após o primeiro turno das eleições de 2010, quando ele conseguiu o terceiro mandato consecutivo na Câmara.

O deputado estadual Marco Donadon tem a mesma sorte do irmão Natan: nunca foi alvo de qualquer processo da corregedoria da Assembléia e, no caso do deputado federal, do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar. Se fosse, dificilmente seria condenado pelos colegas. Na Casa, reina o consenso velado de que fatos pretéritos ao atual mandato não podem levar à cassação.

Será que alguma coisa vai mudar a partir desse ano de 2013? Mesmo considerado pessimista, acredito que no caso de pelo menos um Donadon não haverá mais condições de se manter como um personagem kafkafiano às avessas como vem conseguindo fazer até hoje.