Democracia corrupta, política de poucos

Professor Nazareno*

Publicada em 02 de September de 2014 às 10:05:00

O Brasil é uma das maiores democracias do mundo. Hoje, são mais de 150 milhões de eleitores que a cada dois anos participam de eleições para a escolha de seus governantes. Do Presidente da República até o mais humilde vereador, todos têm que passar pela aprovação do eleitorado. No entanto, o brasileiro, de um modo geral, não gosta da política nem dos políticos. Não é difícil para o nosso cidadão eleitor associar a prática política com roubalheira, enriquecimento ilícito, desmandos, desvios de verbas, tráfico de influência e toda a sorte de ladroagem. E tem razão, pois o que faz um político? Um juiz estuda para interpretar e aplicar leis. Um médico estuda, e muito, para adiar a morte de seus pacientes. Um professor não para de estudar. Um jornalista lê muito. Todo profissional estuda e trabalha para se manter e tentar mudar a sociedade.

Para ser político no Brasil, na maioria dos casos, o indivíduo não precisa estudar nem ler absolutamente nada. Pode até ser ladrão, gangster, mafioso, canalha, patife, criminoso, corrupto, bandido, ficha-suja, mentiroso ou outra desgraça qualquer que será bem aceito por um partido político e quase sempre lhe é concedido o direito de ser votado. Com estes adjetivos, como um “nó cego” desses trabalhará pelo coletivo quando for eleito? Ainda assim, muitos dos eleitores adoram receber um CDS, gasolina, dentadura, telhas e outros mimos para votar nestes canalhas. O último obstáculo deveria ser quem vota, mas este eleitor também “faz vistas grossas”, por ignorância ou por necessidade. Por isso, em quase todas as eleições, ficamos num beco sem saída e, ingênuos, esperamos mudar tudo na próxima votação quando o ciclo se repete.

É bom que se ressalte ainda que a corrupção na política deve existir em todos os países do mundo. Mas o que diferencia a nossa das outras talvez seja a impunidade, por falta de uma legislação pertinente, e a pouca ou nenhuma fiscalização de quem elege esses políticos escroques. Assim, parte dos recursos públicos necessários para promover os investimentos sociais de que a população carente tanto necessita é vergonhosamente desviada por estas autoridades travestidas de bandidos, acentuando desta maneira o abismo social entre pobres e ricos e empobrecendo cada vez mais o país.

Desse modo, não basta apenas criar mais leis para punir os corruptos. É necessário que o eleitor seja mais exigente ao votar, fiscalize todos os eleitos e se conscientize de que cada centavo desviado fará falta na melhoria da sua qualidade de vida.

Além disso, no programa eleitoral gratuito do rádio e da TV ficamos confusos. Afinal, os pouquíssimos honestos e os muitos desonestos estão ali, juntos e cúmplices, todos falando quase sempre as mesmas palavras de otimismo. Honestidade, dignidade, trabalho, motivação, perseverança, riqueza, participação, democracia, prosperidade, verdade, bonança, afinco, firmeza, hombridade, dentre outras mentiras é o que mais se vê e ouve.

Somos responsáveis, eleitores e eleitos, pela construção de um Brasil melhor. E devíamos lutar e contribuir para vivermos livres da corrupção, da roubalheira, da incompetência administrativa e de outras mazelas. Como não há ditaduras honestas, o jeito é se conformar com a democracia corrupta que temos e lutar para mudá-la usando a mesma arma que ela nos dispõe: o voto consciente. A política tem que ser de todos e para todos. Caso contrário, esse país não mudará nunca.



*É Professor em Porto Velho.