Biblioteca inaugura painel que homenageia seringueiros

Os materiais com os quais trabalharam os pintores são os que convencionalmente se usam em pinturas de paredes, brochas e pinceis de uso comum.

Publicada em 23 de October de 2014 às 11:49:00

A Biblioteca Municipal Francisco Meirelles acaba de receber um novo painel em comemoração ao centenário do município. Piero Arariba, artista plástico peruano da capital, Lima, e Jonir Wesley, artista plástico mato-grossense, de Cuiabá, ambos radicados em Porto Velho, pintaram na parede do salão de literatura regional da Francisco Meirelles uma obra que retrata a importância dos seringueiros para a formação da identidade cultural portovelhense.

A pintura foi realizada no domingo (19), tendo sido inaugurada na quarta-feira (22). O artista peruano disse gostar da produção inspirada na história. “Sou um apaixonado pela história dos povos. Procurei me inteirar da história de Porto Velho e da importância dos seringais para a região. Tanto a Amazônia peruana quanto a Amazônia brasileira passaram na mesma época pelos ciclos da borracha. No Brasil, os trabalhadores eram chamados de seringueiros e no Peru eram chamados cauchos. Do lado do Peru, os franceses foram mais influentes na exploração da seringa, enquanto que do lado brasileiro havia mais a presença de ingleses e norte-americanos”, explicou Piero.

Jonir Wesley informou que a inspiração de homenagear os seringais de Porto Velho em comemoração ao centenário do município se deveu ao reconhecimento da importância dessa cultura para a formação histórica da região. “Esse tema precisava ser um pouco mais explorado entre as homenagens que vêm sendo realizadas na Biblioteca Municipal por ocasião do centenário. Para a composição do painel, eu procurei ler algumas coisas históricas e também conhecer algumas lendas e mitos que se criaram a respeito da presença dos seringueiros na Amazônia rondoniense”, disse o artista.

A técnica utilizada na produção, tendo em vista a rapidez exigida para a conclusão do trabalho, pintado no domingo sendo que a Biblioteca deveria estar preparada para abrir normalmente na segunda-feira, foi a de alternar luz e sombra sobre tons medianos, levando em conta a própria cor das paredes. O estilo utilizado é o de pintura impressionista. Os materiais com os quais trabalharam os pintores são os que convencionalmente se usam em pinturas de paredes, brochas e pinceis de uso comum.

O artista peruano contou que se iniciou nas artes plásticas com seu pai e já vive a cinco anos no Brasil, tendo morado na Bahia, Rio de Janeiro e Acre. Há dois anos que está morando em Porto Velho e diz gostar muito daqui. “Sinto-me bem acolhido e tenho encontrado bastante trabalho. Creio que uma das missões do artista é materializar emoções e sentimentos humanos, mas também conscientizar sobre valores que podem ser perdidos. Dessa forma, gosto de tratar de temas regionais, aspectos de cultura particulares que podem ser esquecidas, caso os artistas não as materializem em obras de arte”, observou Piero.

A parceria da Biblioteca com os artistas Jonir e Piero figura entre outras que a Francisco Meirelles tem mantido para a retratação dos cem anos do município por meio das artes plásticas. O artista Piero Arariba, recentemente, participou do concurso de pinturas promovido pela Funcultural e ganhou o primeiro prêmio com a tela Para100pre, que retrata as três Caixas d’Água sustentadas pelas culturas branca, negra e indígena.

Adson Muniz, diretor da Francisco Meirelles, disse que estava faltando uma obra que retratasse a cultura do seringueiro como uma das fontes de origem da identidade cultural da região. “A dualidade entre os seringalistas, que se enriqueceram com a borracha, e os seringueiros, que trouxeram à região sua força de trabalho, mas não lograram o enriquecimento prometido, marca a nossa história desde o século 19 até quase metade do século 20. Por isso, esse painel e a exposição de obras literárias regionais, que também estamos promovendo, tratam desses assuntos e é a nossa forma de homenagear a importância dos ciclos da borracha para a formação do município, que completa seu primeiro centenário”, finalizou o diretor.