A pegadinha da GPE

Por que tanta polêmica sobre a GPE? A Câmara aprovou um projeto incorporando à gratificação aos vencimentos de novecentos servidores, deixando de contemplar outros tantos que teriam o mesmo direito...

Publicada em 16 de janeiro de 2017 às 10:02:00

Por Valdemir Caldas

 

Qualquer servidor do quadro efetivo da prefeitura de Porto Velho já deve ter ouvido falar em GPE – a famosa Gratificação de Produtividade Especial, criada, salvo engano, na administração do então prefeito Roberto Sobrinho, por força da Lei Complementar nº. 391/2010, alvo de muita discussão antes, durante, e, principalmente, depois da aprovação do projeto de reforma administrativa, enviado à Câmara Municipal pelo prefeito Hildon Chaves (PSDB).

Por que tanta polêmica sobre a GPE? A Câmara aprovou um projeto incorporando à gratificação aos vencimentos de novecentos servidores, deixando de contemplar outros tantos que teriam o mesmo direito, causando, assim, um tremendo desconforto para o prefeito, que, agora, terá de resolver mais esse enrosco. Houve quem chegasse ao cúmulo do desespero de ameaçar atear fogo na prefeitura, caso o prefeito não encontre uma saída imediata para o problema.

Nos corredores da Câmara as palavras mais usadas para caracterizar o episódio foram “direcionamento, pegadinha da GPE e esperteza” – para dizer o menos. E o pior é que muita gente embarcou nessa canoa furada. Depois, como sempre, pipocaram as velhas e surradas justificativas do tipo “eu não sabia, eu votei sem ler, eu não tive tempo de estudar a proposta”, enfim, mas o estrago já estava feito, não adiantava chorar sobre o leite derramado.

Ter-se-ia prevalecido o dito “Mateus, primeiro os meus”? Ou seja, primeiro os meus amigos, cabos eleitorais, parentes e aderentes. Depois, se sobrar alguma coisa, distribui-se ao pessoal da raia miúda, aos deserdados da sorte, desafortunados, sem madrinha ou padrinho político. É. Mas os que se sentiram prejudicados não cruzaram os braços nem ficaram resmungando pelos cantos – características, aliás, próprias dos covardes.

Em vez disso, foram à luta. Espernearam, reclamaram, gritaram. E o protesto ecoou fundo não somente dentro do palácio Tancredo Neves, como também nas dependências da Câmara Municipal. A casa caiu, sepultando, destarte, reputações e credibilidades. Houve quem se esforçasse para tentar explicar a lambança administrativa, mas não conseguiu.

Caberá, agora, repito, ao prefeito Hildon Chaves, a difícil missão de remover os escombros de mais um terremoto que atingiu as estruturas de seu governo.  Que ele aproveite o momento para refletir sobre a conduta de muitos que o cercam, antes que o arrastem para o mais profundo dos abismos.