A ética petista foi para as calendas

Valdemir Caldas

Publicada em 02 de August de 2015 às 06:24:00

Em junho de 2005, no primeiro mandato do presidente Lula (PT), o aprendiz de barítono e deputado federal Roberto Jefferson (PTB), insatisfeito com o rateio do butim, denunciou o mensalão, como ficou conhecido e popularizado o esquema de compra de votos de parlamentares da base aliada.

Na prática, o esquema já existia, só ainda não havia sido comprovado. Coube, portanto, a Jefferson, a tarefa de dizer quanto cada deputado recebia para votar segundo as orientações do governo. O Ministro da Casa Civil, José Dirceu, foi apontado como o chefe da quadrilha.

Tambémforam acusados de participarem do esquemao presidente do PT, José Genoíno, o tesoureiro, Delúbio Soares, e o secretario, Silvio Pereira, mais conhecido como “Silvinho Land Rover”, além do então presidente da Câmara dos Deputados, João Paulo Cunha, e do Ministro das Comunicações, Luiz Gushiken. Até o Ministro da Fazenda, Antonio Palocci, apareceu no meio do furação.

Mesmo depois que seus “companheiros” foram condenados pela mais alta corte do país e presos pelos crimes de corrupção passiva e ativa, peculato, formação de quadrilhas, lavagem e dinheiro, dentre outros crimes tipificados no Código Penal, Lula continuou dizendo que não sabia de nada. E aproveitou para jogar a culpa nas costas na oposição, acusando-a de tentar macular a imagem de sua administração e a de seu partido, mas o tempo encarregou-se de revelar que ele estava errado.

Saiu Lula, entrou Dilma, em cujo governo estourou o escândalo do petrolão, uma espécie de mensalão vitaminado, que começou, diga-se de passagem, também no governo de Lula. Foram bilhões de reais desviados dos cofres da Petrobras, para irrigarem as contas bancárias de empresários ladrões e políticos corruptos.

As acusações são muito fortes e muito sérias. Mesmo assim, não têm faltado, dentro das hostes petistas, os que insistem em deixar as coisas como estão para ver o que vai acontecer. A cada semana, a imprensa divulga declarações bombásticas, resultado de um jornalismo sério e investigativo.

A cada depoimento, fica cada vez mais clara a participação efetiva do ex-presidente no imbróglio. Para complicar ainda mais a vida de Lula, seu amigo e empresário Léo Pinheiro resolveu abrir o bico e contar tudo o que sabe à Polícia Federal.

Com o governo atolado até a medula numa crise ética sem precedente na história deste país, Lula, Dilma e sua companheirada, podem colocar a viola no saco e partirem para tocar noutra freguesia, porque o povo acordou. A ética petista, outrora cantada em prosa e verso, espatifou-se, foi para as calendas gregas.