A CPI da marquise

Valdemir Caldas

Publicada em 01/02/2013 às 07:56:00

As denúncias contra a marquise (a empresa responsável pela coleta de lixo em bairros de Porto Velho) não constituem nenhuma novidade, no trato dos negócios públicos. Nem mesmo as irregularidades que teriam ocorrido apresentam qualquer originalidade.

Muito se tem dito a respeito do contrato celebrado entre o município de Porto Velho e a marquise, mas ninguém jamais ousou mexer nesse vespeiro.

A mesma coisa é o sistema de transporte coletivo. Até hoje, não apareceu prefeito para fazer os donos das empresas cumprirem a lei.

O pessoal deita e rola em cima dos usuários e ninguém faz nada para impedir tanto desrespeito. Durante a campanha, Mauro prometeu acabar com o monopólio do transporte. É esperar para ver acontecer.

O próprio presidente da Assembleia Legislativa de Rondônia, José Hermínio Coelho, quando comandou a Câmara Municipal, poderia ter apertado a turma da Marquise, mas preferiu cruzar os braços. Agora, vem querer posar de bom moço, de arauto da moralidade pública. E o pior é que muita gente acredita nisso. Coitados!

Dessa vez, porém, a Câmara resolveu mergulhar de cabeça nesse lodaçal fétido, aprovando a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito, para investigar os negócios da marquise com a prefeitura. Há um odor desagradável no ar. Proteja o nariz!

Diariamente, a imprensa nacional enche seus espaços com noticiário que ameaça transformar as folhas dos diários em paginas policiais. Absurdo conluio entre política e corrupção fornece material suficiente para escrever muitos volumes de autos processuais.

Infelizmente, a sociedade parece ir-se acostumando a esse padrão de administrar, que, raramente, se comove com as notícias, como se estivesse anestesiada, dada a repetição de tantas bandalheiras.

A grande maioria, no entanto, não tem a devida consciência de que a riqueza desviada para os bolsos de catitas e ratazanas gulosas poderia servir para salvar a vida de pessoas que estão morrendo à mingua nos hospitais da rede pública por falta de médicos e medicamentos. Muitos estão jogados no chão, pois não há leitos suficientes.

Enquanto isso, os ladravazes do erário continuam deitando e rolando, viajando para exterior, com parentes e aderentes, comendo e bebendo com o dinheiro surrupiado do contribuinte.

Chega de ser tolerante com o malfeito, com tanta patifaria, com a impunidade, cujo acobertamento tem, ao longo do tempo, rendido benesses aos acobertadores.

A Câmara já deveria ter criado essa Comissão há muito tempo. Espera-se que ela consiga levar a CPI até o final. A marquise é uma empresa poderosa, com ramificação em várias capitais brasileiras e influência político suficiente para meter medo em muita gente. Não se trata de uma empresa de fundo de quintal, como muitos acreditam.

Entretanto, o que a sociedade exige e espera é que, se alguém de fato meteu as mãos sujas no dinheiro público, responda pela sua conduta. Sem isso, qualquer que seja o desfecho da CPI da marquise importará pouco à impunidade que possa advir.